quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quais são os seus "agravantes"?

   Sociedade. O que significa pra você? Pra mim sociedade é um sistema que cria e que é criado pelos indivíduos. Dentre tantas outras coisas existentes numa sociedade existem os padrões que dizem que devemos seguir. Acredito que esses padrões são criadas por nós mesmos e cultuados, reforçados e perpetuados também por nós. Um bom exemplo de padrão é o de beleza. Seguimos o padrão de beleza europeu no qual o belo é ser branco, de cabelo liso e loiro, olhos claros, estatura alta, corpo magro (de modelo) para as mulheres e atlético para os homens. O padrão de beleza também se estende às crianças. A criança bonita, o anjinho, é gordinha, loirinha e tem cabelos cacheados. Os padrões que nos são impostos determinam ainda o que é ser uma pessoa "descolada", "inteligente" e "bem sucedida". Além os padrões as sociedades tem suas divisões hierárquicas (determinadas pela sua classe, por quanto dinheiro você e sua família tem no banco), são machistas, racistas, cheias de implicações religiosas e não podemos esquecer da tão polêmica opção sexual. Podem dizer o que for, a mídia pode mostrar o que quiser, mas no fundo cada um de nós sabe o quanto nossa sociedade é segregadora. Aliás, por falar em mídia, ela é o mecanismo social que mais perpetua e consagra e vende esses padrões como sendo melhor da vida!

   Assim sendo, os "agravantes" como eu costumo chamar (não por que são negativos e sim por que são vistos muitas vezes como negativos) são aquelas características que todos temos e que fazem os outros dizerem "ela é legal, MAS...", "ele é muito bom no que faz, MAS...". Aí nós temos: ser pobre numa sociedade capitalista, que valoriza o dinheiro acima de tudo, que faz as pessoas acreditarem que ser rico, comprar coisas caras e andar com roupas e calçados "de marca" é o mais importante; ser mulher numa sociedade machista, na qual o homem é o sexo forte e a mulher o sexo frágil, na qual uma mulher ainda é vista com certa estranheza quando é a provedora da família ou faz "serviço de homem" ou quando simplesmente não quer ser mãe; ser negro numa sociedade racista, que perpetua até os dias de hoje o desrespeito e a desvalorização das pessoas negras, que associa sempre a imagem do negro a um ser pobre, bandido, favelado, drogado, macumbeiro, que não é inteligente, etc. (a lista de associações negativas é enorme). Não queria entrar muito no mérito das questões religiosas por que é bem complicado, mas também não posso deixar passar despercebido como nossa sociedade - a brasileira - apesar ter várias religiões coexistindo não dá total liberdade para que todas se expressem, desta forma os esteriótipos sobre elas nunca são desfeitos. Por exemplo, uma pessoa que pertence à um culto afro brasileiro é sempre vista como macumbeira, sendo associada também ao diabo (o que é uma figura bem relativa se levarmos em consideração que ele não existe em algumas religiões). Por último, porém não menos importante que os outros e não sendo o último entre todos os "agravantes sociais" existentes, trago a opção sexual. Ser homossexual numa sociedade heterossexual, que acha que mais importante que o caráter e a ombridade das pessoas é o que elas fazem entre quatro paredes e, principalmente, com quem fazem.

   Esses padrões, que nós muitas vezes mesmo sem perceber, achamos que são certos e devem ser seguidos são responsáveis por atos de violência, não só física como verbal. Todos nós temos nossos "agravantes" e já sofremos ou vamos sofrer em algum momento de nossa vida algum tipo violência por isso: ouvir uma palavra atravessada, perceber um olhar diferente, não conseguir ou perder um emprego, receber um salário menor, ser impedido de entrar ou permanecer em algum lugar, ser questionado se pode pagar ou enfrentar uma expressão de espanto quando paga, apanhar na rua, ser xingado, ... infelizmente essa lista só aumenta! Por exemplo, imaginem só o que uma mulher, pobre, negra, lésbica e adepta de uma religião afro brasileira tem que enfrentar. Nossa! Eu poderia dar vários exemplos aqui sem nem mesmo ter que usar todas essas características. Basta falar que a pessoa se encaixa em alguma dessas características que tenho certeza que cada um de vocês pode contar uma situação difícil que já passou.

   Temos que parar de encarar essas características como "agravantes". Temos o direito de ser livres e ser livre inclui não ter um dedo apontando pra você cada vez que você sai na rua. Essa mudança começa com a gente, quando nós respeitamos nosso próximo tendo em mente que também somos o próximo dos outros. Viva e deixe viver. Antes de sermos homem ou mulher, negro ou branco, hetero ou homo, rico ou pobre, católico, evangélico, espírita ou ateu, somos seres humanos e merecemos respeito!!!

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